Vila Pereira da Silva
Fonte: Google
Esse trabalho estudou as representações sociais da Moradia na favela Vila Pereira da Silva, Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro. Localizada em aclive e urbanizada pelo programa Favela-Bairro, sua ocupação remonta a década de 1930.
Baseou-se na Teoria das representações sociais de Moscovici (2003) e adotou a abordagem estrutural desenvolvida por Jean-Claude Abric, segundo a qual, as Representações Sociais se organizariam em torno de um Núcleo Central e em torno dele se estabeleceriam os sistemas periféricos. O Núcleo Central teria dimensões normativas e funcionais. Os elementos periféricos, formulariam a representação em termos concretos, permitindo a adaptação às evoluções do contexto e novas interpretações, protegendo o Núcleo Central (SÁ, 2002).
A pesquisa de campo foi realizada de junho a julho de 2006 onde foram aplicados 100 questionários compostos por: associação de palavras com a palavra indutora moradia, perguntas abertas, perfil sócio-econômico e seleção de imagens, em que foram escolhidas 16 fotografias com características tipológicas
diversas e era pedido para que as separassem em dois grupos: aquelas que representassem “morar bem” e aquelas que não representassem.
Posteriormente, pedia-se para que retirassem as três que mais e as três menos relacionadas. No final era pedido para que justificassem as escolhas. Também foi realizado um levantamento das casas quando era permitido pelos moradores.
Das casas dos entrevistados, 79% são próprias. 51% deles não tem o ensino fundamental completo. O número médio de moradores é de 4,04 moradores/
domicílio. Temos também 22% são domésticas e apenas 4% estão desempregados. A renda média é 3,8 salários mínimos/família e 35% dos entrevistados moram na favela há mais de 30 anos.
Para quem mora em Vila Pereira da Silva, não é possível pensar em “moradia” sem pensar em “conforto” e morar com conforto, para muitos deles, é
“ter o mínimo necessário” ou “uma casa com espaço e arejada”. “Morar com segurança” é “morar sem violência” ou “ter uma vizinhança tranqüila” ou ainda
“ter uma moradia firme”. Morar com tranqüilidade significa morar sem violência.
Para os entrevistados, uma casa no campo, isolada, com telhado de duas águas em telhas cerâmicas é o “tipo de casa que gostaria de ter”. Morar bem é
numa CASA ISOLADA no terreno, pois “morar isolado” dá uma “sensação de privacidade” e “Independência”. O CONTEXTO em que está inserida, o
ESPAÇO e NATUREZA também são importantes: “Porque tem verde” e está “no meio da natureza”; além do CONFORTO de se morar em casa: “Casa é
mais confortável” e da TRANQÜILIDADE:“Transmite tranqüilidade”; os ASPECTOS ESTÉTICOS,a BELEZA ea ARQUITETURA:“Gosto de coisa
bonita”. Poderia ser uma casa de PRAIA: “Por causa da praia”, desde que isolada e num lugar tranqüilo.
Para eles, pode até ser morar em Vila Pereira da Silva, pois “minha casa é igual a do Ceará”, ou “porque já estou aqui mesmo”, ou mais ainda: “eu me
sinto bem aqui. Tudo que eu preciso está aqui. Temos bons vizinhos. Eu acho que eu moro muito bem. Abro minha janela e vejo o pão de açúcar”. Questões ligadas à ambiência, às redes sociais, e as raízes estão presentes.
Para muitos, o “importante é não ter violência” e também “não adianta ter casa bonita e não ter nada dentro dela”. Apesar disso, para muitos dos moradores, “é horrível morar na favela” “(...) cheia de barraco”, seja pela questão da VIOLÊNCIA: “(...) fica sujeito ao mundo do crime”. Ou por representar a própria REALIDADE, rejeitando-a: “É minha realidade (...)”, por estar em área de ACLIVE: “Porque é morro, favela, muita escada, odeio escada” ou o RISCO de desabamento ou a falta de PRIVACIDADE: “Aglomeração de pessoas” e de BELEZA:“Não é tão bonito”.
“Não morar bem” é morar em FAVELAou numa AGLOMERAÇÃO de pessoas: “Casa em cima da outra; sem ar”, em ACLIVEe em casas TREPADAS umas nas outras: “Feia. Casa trepada” ou sujeitos à VIOLÊNCIA.
Com relação às moradias, observa-se que estas, de uma maneira geral, possuem dimensões não muito pequenas. Embora existam muitas casas de aluguel, elas não são maioria.
O exterior parece agradar, seja pelo hábito, sejam pelas raízes. A implantação em aclive proporciona vista para as áreas mais belas da cidade do Rio de Janeiro e faz com que verifiquemos um maior número de aberturas para o exterior. O contato com a natureza que essa implantação proporciona é um elemento em comum com a representação do "morar bem”.
A concretização da moradia fica aquém do ideal apresentado na escolha das imagens, que são idealizadas, entretanto, verificamos nas casas alguns dos elementos apontados pelos moradores entrevistados como norteadores da escolha das imagens. Há, na maioria dos casos, uma busca de um conforto, seja nos espaços generosos, seja no maior número de aberturas encontradas.
Trata-se de uma favela com 60 anos de existência, onde ter conforto, ter o mínimo necessário e eletrodomésticos são prioridades. Verificamos, portanto, que o grau de satisfação do morador com a moradia é grande, pois os laços e as raízes com o local são significantemente fortes. O ideal de moradia seria uma casa, com telhado de duas águas, isolada num terreno gramado, com bastante área verde e em contato com a natureza. Se possível, uma casa bonita, num lugar seguro, tranqüilo e sem violência. Pode até ser na própria favela, mas não em outra, desde que numa casa com "conforto".
Verifica-se, portanto, que morar em casa, e a existência de quintal, são os elementos da construção e do "morar bem" mais freqüentes. O quintal talvez seja a maneira encontrada, por conta das limitações de implantação para se obter "espaço" e um "contato com a natureza". No entanto, a maioria dos projetos em conjuntos habitacionais, como a analisado por BERGAN (2005), são conjuntos de apartamentos, muitas vezes com espaços reduzidos, sem uma área externa ou de quintal, não correspondendo à representação do "morar bem" para grande parte dos moradores, o que muitas vezes proporciona uma não aceitação ou adaptação a esse tipo de habitação.
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